terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O André passa a vida a correr, contudo, não é dessa forma que passa pela vida.



Que quantidade de vida é possível viver em 25 anos? Varia seguramente de pessoa para pessoa.
Passado pouco mais de 25 anos, o André já viveu mais do que a maioria das pessoas e acima de tudo, aprendeu a ser feliz.
Desde outubro de 89 o André tem crescido para cima, como as árvores, formou-se em economia, tornou-se atleta a tempo inteiro, correu uma maratona, tentou alcançar o cume do Monte Branco, participou em vários projectos musicais, dominou a procrastinação e mudou de vida quando a consciência assim o ditou. Actualmente é feliz, apesar de ainda lhe faltar fazer muita coisa (talvez seja por isso mesmo).

Por esta altura, o André (que já foi economista praticante) encontra-se no Brasil, em preparação para a BR 135+ uma das corridas mais duras do mundo, com apenas 281 quilómetros. Mas como é que tudo isto aconteceu?



O orto do André, deu-se na sua terra natal, Proença-a-Nova, em 2012 com a primeira corrida de montanha (já havia passado por uma experiência semelhante em 89 quando saiu de dentro da sua mãe). Por essa altura estudava economia à custa de poupanças amealhadas durante o serviço militar voluntário e de um empréstimo universitário. Dono de uma natureza obsessiva e de uma mente maior do que o espaço físico que lhe estava destinado, começou a treinar sozinho com o propósito de domar ambas de alguma forma. Pelo caminho, a corrida tornou-se também um processo de autoconhecimento o que o levou ao budismo. Por esse tempo estabeleceu um equilíbrio precário entre a competição e a meditação, que só mais tarde conseguiria resolver. Hoje coexistem de forma pacífica.

Mas o André enquanto ser, é muito mais do que isto, é desmesuradamente grande na sua vontade. É um exemplo a copiar, porque largou as amarras, aquelas amarras que nos mantém enganadoramente seguros, que quase sempre nos impedem de avançar para lá dos subúrbios e viver a plenitude das coisas. O André deixou, a estabilidade do emprego, da família, dos amigos do bem-estar (ainda que ilusório) e agarrou-se à enorme vontade de viver feliz. É que a felicidade não é um objecto estático, é um conjunto de coisas (pequenas ou grandes, consoante a importância individual) que se vão coleccionando e nos vão enchendo por dentro. Quanto mais cheios de coisas boas, mais felizes seremos. Acima de tudo, é o aproveitarmos o tempo que nos é disponibilizado da melhor forma, que nos fará realmente felizes. E só o facto de não sabermos quanto tempo é esse tempo, é o principal motivo para que não nos esqueçamos dele.



Oscar Wilde disse uma vez viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Desconfio que o André se enquadra naquelas raras, as que vivem, mas de braços bem abertos de forma a envolver nesse abraço o maior número de coisas e pessoas que conseguir, e fá-lo-á seguramente antes de ser velho, pois como se sabe, os antigos carregam nas dobras das pernas memórias, que lhes atrasam a marcha.

O André nem sequer se limita só a sonhar. Nas suas palavras —sonhar é pra fracos— e é-o apenas porque sonhar, faz-nos entrar numa dimensão que nos iliba de toda a responsabilidade —designar como sonho algo que é projectável, é a primeira falha de planeamento—. Por isso o André projecta aquilo que se propõe alcançar, mas fá-lo ciente da possibilidade de fracasso, não sendo isso que lhe corta o caminho. Quanto mais trabalhar nesse sentido, mais se aproximará da glória, não pelo reconhecimento alheio, mas pela vontade própria de ser feliz, e alguém lhe pode negar esse direito?
É óbvio que nem todos os planos se concretizam à primeira, mas é por isso mesmo que cada vez que lhe morre um sonho, lhe nasce um sorriso nos lábios, o sorriso próprio de quem compreende que o fracasso é só mais um degrau no processo.

E depois?


Depois resta-lhe continuar a ser feliz e a seguir o caminho que passa por correr a Maratona dos Jogos Olímpicos de 2016, a Marathon des Sables, a 6633 Ultra, a Iditarod Trail Invitational, a Badwater, a Spartathlon Ultra Race, aprender a tocar piano e saxofone, formar-se em física, escalar as montanhas que puder, percorrer a pé a Rota da Seda, participar numa expedição espacial, fazer uma travessia num barco à vela, aprender a pilotar aviões, aprender a cultivar recorrendo à permacultura e no final atingir a iluminação. Não sei se conseguirá fazer o caminho todo, mas tenho a certeza que desistir não faz parte do plano.

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