terça-feira, 27 de maio de 2008

No reino de Tolkien

Reunimo-nos mais uma vez na Sertã desta vez para uma ida até Pedrógão Pequeno. Seria uma volta mais fácil do que o habitual, aproximadamente 70 quilómetros e um acumulado de 1500 metros. No que diz respeito ao percurso, a beleza do mesmo a todos deslumbrou pela quantidade de imagens pouco habituais. Pedrógão Pequeno fica situado na margem do Zêzere, sendo que a separação de Pedrógão Grande é feita precisamente pelo rio. O local é bastante rico em trilhos para a prática de btt, grande parte deles desenhados ao longo das encostas do rio.
Desta vez éramos quatro, o Nuno, o Valter, o Pinto e eu. O objectivo era andar a bom ritmo com poucas paragens.
A saída da Sertã fez-se já por volta das 10 com o céu completamente forrado a ameaçar o que pouco tempo depois acabaria por cumprir - água. O início foi feito por caminhos florestais bastante verdes devido à chuva fora de época.


Várias subidas depois fizemos a primeira paragem numa fonte para abastecer de água e comer qualquer coisa. Estávamos a meio caminho de Pedrógão e a chuva agora aparecia a curtos espaços mas sem grande intensidade.
Havia a hipótese de se subir a serra do Viseu, mas os vários quilómetros que iríamos fazer em estradão levou-nos a optar por algo diferente.
A partir daí cruzámos algumas aldeias e bastantes terrenos, outrora cultivados mas agora deixados ao abandono. É consequência da desertificação do interior e do envelhecimento da população.


Na chegada a Pedrógão fomos recebidos por uma chuva mais forte e acabámos por parar na minha casa (ainda em reconstrução na falésia do Zêzere) onde nos abrigámos da chuva e almoçámos (salvo seja).


Ficámos por lá bastante tempo à conversa. A chuva entretanto havia parado, mas recomeçou ao mesmo tempo que nós. Ainda tentámos enganá-la com um café quentinho tomado em Pedrógão. Nada feito.
A partir daí iniciou-se a parte mais deslumbrante do passeio com a descida de uma geira empedrada até à ponte filipina (que fica por baixo da nova ponte), antigamente a única ligação entre os dois Pedrógãos, o Grande e o Pequeno.








O contraste entre o antigo e o moderno é impressionante.
Estávamos à beira rio.
Os grandes maciços em granito decorados com abundante vegetação entram pela água dentro ou saem dela para fora fazendo-nos sentir muito pequeninos. Somos obrigados a parar diversas vezes para apreciar a grandiosidade do local. Parece quase uma revisita aos cenários do Senhor dos anéis.







Seguimos durante algum tempo com o rio como guia até que começámos a subir, logo após a passagem num túnel que nos dá a impressão de estarmos a entrar noutra dimensão.





A subida fez-se com a alegria do costume e desta vez sem paragens até final (ou quase).
A paisagem mudava rapidamente a cada pedalada mas sempre fresca e verde. Ainda vimos o sol por uma ou duas vezes mas muito de passagem.




A única paragem que fizemos teve por objectivo evitar que as cerejas pendentes de duas cerejeiras que se cruzaram connosco se estragassem.




Continuámos então caminho até que a chuvinha que nos havia acompanhado se transformou em chuvada, isto a 10 quilómetros do final. Resolvemos cortar caminho e regressámos à Sertã o mais depressa possível com a chuva a cair com força, qual agulhas que se espetavam na pele e mal nos deixavam ver o caminho, afinal ainda havia um churrasco à nossa espera e duas garrafinhas de Corga da Chã, um Chaminé e um Esteva para degustar.
Dia 21 haverá uma reedição desta volta com todos os amigos que desta vez não puderam estar presentes e aqueles que se nos quiserem juntar.
Até lá.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Passagem no Paraíso

Aproveitar o dia da melhor maneira foi a proposta para o dia do trabalhador. Trabalhar estava fora de questão. E que melhor maneira de passar o dia do que a pedalar por aí e descobrir novos locais, novas pessoas e novas paisagens?
Ficou então combinado sairmos de Cernache do Bonjardim à procura de uns trilhos que o Tó (agora baptizado “dos trecos”) fizera há uns anos atrás, mas de mota (íamos ver se ainda existiam).
A deslocação até Cernache do Bonjardim foi feita de bike, assim como assim o aquecimento estava feito.
Após um café que serviu para acordar os mais sonolentos, lá partimos em direcção ao desconhecido (mais ou menos).
Tomámos a nacional em direcção a Tomar e um pouco à frente virámos à direita e entrámos na terra.
Os típicos caminhos florestais cobertos com caruma levaram-nos ao Pampilhal e à primeira paragem para apreciar a paisagem. Com o dia claro e limpo, os montes e vales perdiam-se de vista.


Se até aí tínhamos subido começamos uma divertida descida até ao Brejo da Correia. Após breve encontro com o alcatrão voltámos à terra onde seguimos mais uns quilómetros até encontrarmos o que restava de uma aldeia que dava pelo nome de Paraíso. Os habitantes há muito que partiram e ficaram apenas algumas velhas ruínas engolidas pela vegetação.
Mais à frente vimos um carreirinho alternativo marcado com uma placa que dizia “extreme – só duas rodas”. Com uma indicação tão sugestiva só havia uma coisa a fazer, segui-lo para ver como era, onde ia dar e se era realmente extreme. Só o Luís seguiu por ali comigo. No início seguimos por um estreito corredor ladeado por giestas, mas uns metros à frente, a coisa tornou-se realmente extreme. Uma descida com uma inclinação enorme, obrigou-nos a desmontar. O Luís ainda tentou a sua sorte, mas depressa desistiu. Era impossível descer aquilo em cima da bike. O Tó garantiu-nos que o pessoal das motas passava por ali. Não duvido, mas gostava de ver.



Mais à frente fizemos uma paragem no “Lírio do Zêzere” para refrescar a garganta, pois o calor fazia-se sentir e bem.
Ainda conseguimos convencer a proprietária a tirar-nos uma fotografia. Ela bem avisou que não era dada a modernices mas não lhe demos ouvidos. O resultado é o que se vê.



Toca a seguir em direcção ao Almegue que ainda havia muito para andar.
A paisagem mudava drasticamente em meia dúzia de metros. Os pinhais e eucaliptais, davam lugar a campos verdejantes forrados a amarelo e a refrescantes riachos à medida que íamos descendo ao encontro do rio. Mais à frente, o caminho levou-nos mesmo até ao Sambado, que fica na encosta do Zêzere. À nossa frente estava a Foz de Alge. A vista valeu uma curta paragem e umas palavras com um habitante local. Seguimos mais algum tempo junto à água até começarmos a vislumbrar na margem oposta a bela localidade de Dornes. Ainda procurámos um barco que nos levasse ao outro lado a comer a especialidade da terra, achigã frito com arroz de tomate (um pitéu), mas não tivemos sorte e vingámo-nos nas barras que levámos (que remédio).




A partir daí começamos a subida para a Serra da Aparícia, que viria a desenrolar-se por alguns quilómetros. Ao fazermos um pequeno desvio deparámo-nos com o caminho fechado pelo mato e tivemos que ser nós a carregar as bikes morro acima. Nada de grave.
Continuámos a subir sempre acompanhados por uma paisagem deslumbrante com o vale do Zêzere sempre por baixo de nós. Os montes, o verde e o rio conjugam-se em perfeita harmonia. Aproveitámos para tirar mais uma foto e continuámos até ao topo da Serra.




Lá chegados, foi hora de descer por ali abaixo até ao Vale da Ursa com o rio sempre por companhia. Passada a estalagem e devido ao adiantado da hora fizemos os últimos quilómetros em alcatrão, pois a hora de almoço já havia passado há algum tempo.

Antes de chegarmos ainda parámos no café do Sérgio para refrescar a goela.
Daí até Cernache do Bonjardim foi um saltinho.
Para mim ainda havia mais uns quilómetros a fazer até à Sertã, mas tive a companhia do Moedas e do Luís até metade do caminho, ficaram no Tojal.
O dia do trabalhador, esse foi muito bem passado a pedalar e a restante tarde a descansar.
Foram 67 quilómetros muito bem passados a um ritmo de passeio com um acumulado de 1300 metros, ao longo dos quais tivemos sempre a companhia do assobio do Tó (já é hábito) e da resmunguice do Xana que passou o dia a dizer que ia trocar a bike por uma acelera. Afinal no Domingo lá estava ele em Pedrógão para mais umas pedaladas.


sexta-feira, 2 de maio de 2008

Um fim-de-semana 3 em 1

O fim-de-semana começou mais cedo do que habitualmente. E que bem que isso sabe.

Quinta-feira à noite meti a bike no carro e segui em direcção a Cernache do Bonjardim onde iria fazer um nocturno. No fundo foi mais um pretexto para um petisco, uma vez que o Moedas fazia anos no dia 25 e queria oferecer a ceia.

Reunidos no parque do Manecas lá partimos para mais um nocturno. Confesso que não sei bem por onde andámos (estava muito escuro) mas algures pelos arredores de Cernache.
Devido à chuva da semana anterior fizemos alguns quilómetros em lama o que torna sempre um nocturno mais divertido, porque ao não se ver bem por onde se vai, vai-se ao chão mais facilmente. Nada de grave.
Uns quilómetros à frente estávamos no Tojal, local onde iríamos cear, mas entretanto ainda havia que voltar ao ponto de partida.
Já de banhinho tomado lá tomámos de assalto a adega do Moedas, não fosse a carne previamente temperada estragar-se. Ficámos por lá até quase às 3 de manhã.




Sexta-feira.
O despertar foi bastante cedo, principalmente porque o recolher foi bastante tarde.
Era dia de ir até Figueiró dos Vinhos para o passeio da Liberdade.
Lá chegado e após os preparativos finais foi dado o tiro de partida.
O percurso era muito bonito e exactamente como eu gosto, com um sobe e desde constante. A paisagem com o Zêzere como pano de fundo não deixou ninguém indiferente.
Resolvi imprimir um ritmo forte, ficando sozinho na frente.
Como as marcações, não estavam grande coisa, andei um bocado perdido, mas nada de grave. Acabei por apanhar o grupo da frente (os Ansibikers) devido a queda aparatosa de um deles. Felizmente não foi nada de grave, apenas um desagradável enfeite epidérmico.
Continuou o sobe e desce até à começar a descida para a foz de Alge. Esta sim espectacular, porque além de longa é bastante rápida e divertida. Vejo o vale lá ao fundo que se aproxima a cada pedalada.
Já junto ao rio, o reforço. Em seguida deslocamo-nos ao parque de campismo onde simbolicamente foi plantado um sobreiro.
A seguir, a melhor parte do passeio, uma subida ininterrupta de 14 quilómetros até Figueiró dos Vinhos onde cheguei de sorriso nos lábios.
À tarde ainda houve tempo para um Benfica-Sporting.
Recordação de outros tempos onde se conseguiu reunir todo o pessoal que vai estando por fora e que aproveita estas ocasiões para matar saudades.
Infelizmente o resultado não traduz o que se verifica actualmente. O Sporting foi esmagado pelo poderio encarnado. A conta, essa perdeu-se a partir dos 20. Mais fácil de contar os golos do Sporting. Chegaram aos 4. Mas eles também tinham o Sarmento ;-)
A festa prolongou-se pela noite fora à volta do cabrito estonado.





Domingo.
Dia de rumar ao Paul da Serra, para uma das melhores maratonas em que participei.
Saímos cedinho da Covilhã onde pernoitei em casa do Valter e da D. Lina. A chegada ao Paul foi rápida.
Encontrámo-nos com os restantes Cagaréus e com os Angarnas, que também estavam presentes. A festa estava garantida.
Finalizaram-se os últimos preparativos para a maratona, uma das melhores em que participei (não sei se já tinha dito isto).
A habitual voltinha pelas ruas da vila e o início propriamente dito. O início foi feito sempre na companhia do Valter e do Metralha. O ritmo imposto foi bom, sem ser exagerado, pois havia 70 quilómetros para cumprir e um acumulado a rondar os 1700 m (como convém).
Os quilómetros iniciais foram sempre a subir, o que serviu para espalhar o pessoal, não dando origem aos habituais atropelos.
Senti-me em casa, muito sobe e desce com umas subidinhas bem jeitosas pelo meio.
Após o primeiro reforço na localidade das Cortes do Meio as minhas mudanças começaram a saltar. Após várias tentativas de afinação concluímos que o mal era outro. Um elo gripado que tinha ficado, digamos colado e ao passar no desviador fazia a corrente saltar. Só havia uma solução, descravar aquele e colocar um elo de engate. E assim foi. Ainda tivemos a companhia da Daniela e do Dimitri (o seu Grand Danoir) que nos ofereceu o seu apoio moral.
Com isto perdemos mais de 10 minutos e vários lugares.
A partir daí o ritmo foi outro. Havia que tentar recuperar o tempo perdido. Apesar disso ainda deu para apreciar a paisagem e para desfrutar do percurso.
Um adjectivo para ambos –fantástico.
Fantástica também a passagem nas diversas ribeiras da Estrela, com pontes construídas de propósito para o efeito.
Com este aumento de ritmo o Metralha começou a ficar ligeiramente para trás e perdemos definitivamente o contacto com ele pouco antes da passagem na meta que marcava o final dos 40 quilómetros. Para nós ainda havia mais 30 para fazer.
A segunda parte era menos espectacular (para a vista), mas muito mais para as pernas. O sobe e desce constante com algumas subidas bastante inclinadas (a juntar ao ritmo imposto), começaram a deixar algumas marcas no Valter. Sei bem o que isso é, ainda há pouco tempo passei pelo mesmo. Felizmente desta vez senti-me muito bem, foi mesmo a maratona em que me senti melhor este ano.
Aproveitamos o último reforço para comer qualquer coisa e seguimos. Apesar do cansaço do Valter seguimos sempre juntos e no final ainda foi buscar força para um sprint final que nos permitiu passar mais dois colegas.
Finda a maratona foi altura de lavar as bikes e por a conversa em dia com o Ernesto e com o Agnelo que já não via há uns tempos. É sempre bom rever amigos.
Os banhos foram de água quente e sem confusão com espaço mais que suficiente para todos.
No almoço não faltou nada, nem um gelado para sobremesa.

Só queria terminar, dizendo que esta maratona está no meu top 2 de maratonas e passo rapidamente a explicar.
Organização sem falhas. Percurso lindo e duro qb, notou-se a preocupação da organização em “inventar” caminhos para passarmos, e que bem o fez.
Abastecimentos fartos com tudo o necessário (grelhados, barras, bebidas isotónicas, bananas e eu sei lá mais o quê).
Vários pontos de água. Importantíssimo devido ao calor que se fez sentir.
Simpatia da organização e dos colaboradores.
Banhos e almoço, como já disse estiveram perfeitos.
Numa altura em que infelizmente o nível das maratonas se tabela muito por baixo (uma maratona não é só o percurso, é tudo o resto) ainda há alguns casos (como este) em que se sabe como fazer as coisas, e bem.
Na minha opinião, a grandeza de um evento vê-se pela qualidade do mesmo e não pela quantidade de participantes.
Desta forma posso dizer que esta maratona foi enorme.
Parabéns às gentes do Paul.