quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Assalto ao Caramulo - como tudo realmente se passou

Há as chamadas pessoas normais, há os tontinhos e há os outros. É precisamente à volta destes últimos que gira esta crónica.
Os outros são uma espécie de gente que apesar da aparente normalidade, têm uns acessos de demência ocasionais que quanto mais não seja causam alguma preocupação.
Tudo começou com uma ideia do Faísca (este gajo até as sonha) de se fazer um ataque conjunto ao Caramulo (vá-se lá saber que mal é que a serra lhe fez). Como (e isto não deixa de ser preocupante) há pessoas que não conseguem identificar a insanidade de um gajo à primeira, prontificaram-se logo a acompanhá-lo. Assim nem pestanejaram quando a data foi escolhida – 1 de Dezembro. Quando se soube a previsão do tempo para esse fim-de-semana e principalmente para esse dia – uma vaga de frio, muita chuva e possibilidade de neve nos pontos mais altos, alguém se importou com isso? Naaaaaaa. - É só para ir fazer companhia ao tontinho, mais nada, – disseram alguns, - é que já estava marcado – disseram outros, - o ponto de encontro é às 10 da matina com este tempo? Olha que se lixe vou ficar é na caminha – disse ainda o Marco Fortes, mas mais alguns terão dito o mesmo.
Admito que fui um dos que foi só para fazer companhia ao tontinho, não fosse ele perder-se e eu é que tinha o GPS…
Saí da cama às 5.30.
Até à chegada à casa do xôr perlesidente há um vazio temporal que não consigo preencher. A minha chegada foi saudada com um – ISTO É QUE SÃO 6 HORAS???
E pronto, acordei logo. O João já lá estava e entretanto chegaram o Valter e o Gilberto. Estes 2 sempre atrasados. Uma vergonha…
A nossa chegada a Vila Nova de Monsarros foi rápida. Em pouco tempo estávamos prontos a partir, nós e a chuva que certamente estava à nossa espera, a grande #?#$&%!!#?/$
Entretanto o Valter já havia percorrido a rua principal 3 vezes ao pé-coxinho, fazendo o aquecimento necessário para o que havia prometido dias antes. Ao meu inocente comentário –estou a ver que vou passar mais um dia a gritar “ANDA VALTER HUGO”, respondeu prontamente – só para ti, subo aquilo tudo só com uma perna. Este homem tem uma determinação de ferro, fosse a perna em questão feita do mesmo material e seria um caso sério.
Lá partimos com algum atraso, mas cheios de vontade de subir a serra.
Uns quilómetros à frente a chuva parou, e o dia acordava, tal como o sol, sendo que este cheio de sono deve ter voltado para a cama uma vez que só o voltámos a ver no fim do dia.
A viagem foi decorrendo sem incidentes de maior e à medida que se subia, o frio aumentava proporcionalmente e era de cortar as orelhas. Curiosamente no caso do Hernâni não seria o frio que lhe viria a cortar a dita, mas já lá vamos.
Chegados ao Moinho do Pisco a neve apareceu pela primeira vez. Entretanto na passagem de uma poça de água, o Valter esquecera-se completamente do apêndice que transportava (leia-se a perna que só ia a estorvar) acravou o pezinho na água, que com este frio, é do melhor para acordar. Claro que alguém tinha que levar com as culpas, calhou-me a mim que ia ali ao pé, mas tudo bem.
Daí até ao Boi (o local de encontro) ainda se nos juntaram dois amigos de Águeda, um de Anadia e Paulo de Canelas. Um abraço a estes bravos que subiram a serra quase toda sozinhos, o que com este tempo é de homem.
À chegada ao Boi nevava intensamente. Fui recebido com uma bola de neve atirada pelo Candinho Valentintim, que distribuía fruta a tudo o que mexia.
Como não conseguimos comunicar com a frente de Tondela (que também lá esteve mas um pouco mais tarde) seguimos então em conjunto com o pessoal de Mortágua com destino a Malhapão de Cima. Esta foi a parte mais espectacular, uma vez que todo o percurso foi feito debaixo de um nevão intenso e a abrir caminho pela neve.
Entretanto seguia na roda do Valter (que já estava a utilizar as duas pernas, por uma questão de equilíbrio ao que parece) e à minha frase de incentivo – ANDA VALTER HUGO, responde com um – não posso, não tenho tracção…
Escusado será dizer que esta foi uma das frases mais ouvidas no resto do dia, pfffffffff.
A 1 quilómetro de Malhapão a frente de Mortágua resolveu iniciar a descida. As condições climatéricas estavam de facto muito agrestes.
Os “outros” (cujo frio nos mantinha meios dormentes ou melhor dizendo meio dementes) continuaram até local de almoço. A garrafa de jeropiga que nos acompanhava encontrava-se vazia e necessitava de uma recarga.
Um lume enorme esperava-nos bem como umas moelas e um pica-pau quentinho. Tudo isto foi devidamente acondicionado com vinho e uma aguardente com mel que era de estalo.
Foi então tempo de vestir uma roupa seca para a descida que se previa bem fria.
Entretanto o Candinho secava com afinco o casaco que julgava ser seu. Viria a descobrir mais tarde que o mesmo pertencia ao Esgalhado, acabando por descer a serra com o seu molhado. É assim que se criam pelos no peito.
O regresso foi-se fazendo sempre na companhia de uma paisagem deslumbrante. De facto a serra coberta de neve tem qualquer coisa de mágico, a que ninguém consegue ficar indiferente.
Já com Monsarros à vista o Vítor e o Hernâni na zona espectáculo, não se fizeram rogados e presentearam-nos com um belíssimo bosogui quase em estéreo. O Vítor levantou-se quase tão rápido como caiu. Já o Hernâni demorou-se mais um pouco e enquanto se levantava ia insultando o eucalipto que lhe fez um corte na orelha. Como se vê nem só o frio corta as orelhas, os eucaliptos também e com a vantagem de o fazerem de uma forma muito mais espectacular. Uma saudação especial para esta dupla de amigos, que sendo os menos novos da missão conseguiram de uma forma peculiar passar a todos uma valiosa lição de vida. Quando se cai é preciso levantar e seguir em frente. Uma inspiração para todos dirão alguns, uma risota dirão outros.
Seguiu-se o banhinho quente e o lanche no café onde tudo havia começado umas horas antes.
Agora mais a sério, um abraço para todos os que participaram nesta aventura e em especial para o Tó Faísca pela iniciativa que teve, tendo conseguido juntar um bom número de “outros” lá em cima. Parece que para a primavera vamos lá outra vez. O Caramulo que se cuide.
Encontrar-nos-emos por lá.




























sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Travessia dos Candeeiros

O dia começou bem cedo. A saída de Aveiro estava prevista para as 6.30. acabou por ser quase uma hora depois. O Ernesto, o Brandão e eu ainda passámos por Águeda buscar o Ricardo. Éramos quatro, os que nos propúnhamos atravessar a serra dos Candeeiros, na companhia de mais uns quantos que nos aguardavam em Leiria.
A organização da travessia coube ao SCL Marrazes, mais propriamente ao Alex e ao Bruno (que me acompanharam no 2º capítulo) e consistia na saída de Marrazes (Leiria) seguindo em direcção às salinas de Rio Maior. O regresso, esse seria feito de carro.
Depois dos preparativos iniciais e do levantamento dos frontais preparamo-nos para o início e tirámos a tradicional foto. Éramos 26.





Começámos a subir em direcção ao Castelo. O track do percurso foi disponibilizado a quem quis, apesar de todos terem optado por seguir juntos, nem outra coisa faria sentido, uma vez que se tratava de um passeio.
O percurso era uma incógnita. O início foi feito através de estradões com bom piso, mas rapidamente entrámos num espectacular carreiro muito técnico e com muita pedra (o que iria ser a nota dominante).
Continuámos mais uns quilómetros antes de entrarmos na serra. A parte mais dura mas também a mais bonita ainda estavam para vir.





Mais à frente, entrámos na antiga linha do comboio, um caminho onde a pedra reinava e a progressão apesar de não ser muito lenta era feita com algum custo. Um pouco antes de deixarmos a dita linha, fizemos o primeiro reforço líquido. De seguida, seria sempre a subir até ao moinho (em ruinas) que nos aguardava no topo. A partir daí a pedra não mais nos deixou durante muitos quilómetros, mas à medida que o piso piorava, o que se alcançava com os olhos melhorava e muito. Estávamos em plena serra dos Candeeiros onde a natureza ainda é quase virgem. A paisagem envolvente não deixa ninguém indiferente.




Mais uns quilómetros para cima e chegamos às antenas. Aí reagrupámos e continuámos até ao arco da memória. O terreno aqui, fez-me lembrar o Sicó, com partes de muita pedra e com carreiros divertidos mas muito técnicos onde é necessário muita atenção. A próxima paragem foi no Arco da Memória, onde aproveitámos para reagrupar. Daí até casal de Vale de Ventos foi um saltinho. Mais uma paragem no bonito café local para comer qualquer coisa e para apreciar os locais que iam apreçando as máquinas em exposição na entrada.
Seguiu-se então em direcção ao final, mas antes pudemos ainda atravessar longitudinalmente grande parte da serra tendo por companhia um vento frio e as ventoinhas do parque eólico que andavam bem mais depressa do que nós. Este final em estradão serviu para relaxar as pernas e as costas, principalmente para os que como eu têm uma rígida.





Nas salinas o transporte de regresso esperava por nós, bem como uns bolos que souberam pela vida. Foram quase 80 quilómetros onde o acumulado de 1800 metros não espelha a dureza do percurso, onde nos fartámos de apanhar porrada.
Já em Leiria fomos a banhos e ao jantar. O dia terminou com o regresso a Aveiro.
Um grande obrigado aos amigos Alex, Bruno (amigos já de longa data) e a todos os Marrazes pelo convite e pela organização desta travessia onde houve de tudo; boa disposição, bons trilhos, paisagens de encher o olho e até um frontal personalizado. Tudo isto por apenas um muito obrigado e uma promessa de voltar para a próxima. Penso que foi este o sentimento de todos os que participaram nesta travessia. Voltaremos certamente.




terça-feira, 14 de outubro de 2008

Raid pré-geo

Desta vez o desafio era fazer um percurso todo ele marcado através do google earth (evitando o alcatrão), passando por meia dúzia de sítios que já há muito desejava conhecer, mas que me tinha habituado a ver ao longe e a pensar –tenho que ir lá acima um dia...
Iria também aproveitar para fazer a preparação para o GEO-RAID, preparação essa que se quer bem feita, porque 170 km em 2 dias com 6000 de acumulado não é brincadeira. Ainda assim é com esse espírito que vou participar, o da brincadeira e da diversão aproveitando para desfrutar das magníficas paisagens que a serra da Lousã e as bem recuperadas aldeias de xisto têm para oferecer.
A expectativa era grande, pois num percurso marcado através do google nunca se sabe bem o que se vai encontrar, mas a vontade de ir por aí fora era mais que muita.
Saí então da Sertã e o objectivo seria ir até Proença-a-Nova e regressar por caminhos diferentes.
Os primeiros quilómetros foram feitos por caminhos já conhecidos, só a partir do Vale do Pereiro é que entrei no “desconhecido”. Depois de subir até quase ao topo da serra da Longra, lancei-me numa bem rápida descida até à localidade seguinte que dá pelo nome de Rafael.
A ponte local, apresentava-se qual portal para uma nova dimensão, totalmente desconhecida…
Iniciava aí uma subida até às eólicas do Vergão cuja inclinação aumentava à medida que me aproximava do topo. A parte final, então era uma parede incrível. Lá em cima parei uns minutos para recuperar o fôlego e para apreciar a vista.
Desci depois por um caminho que me iria levar até às Cimadas e daí até Proença continuei num autêntico carrocel rompe pernas. Nem a magnífica vista servia de distracção uma vez que vá-se lá saber porquê não tirava os olhos da roda da frente.







De Proença, saí em direcção ao Malhadal onde a subida mais difícil do dia me esperava. Um misto de inclinação com grandes regueiras e pedra solta onde era quase impossível não desmontar. Do Malhadal até à Isna de São Carlos foi um saltinho, feito num estradão com muito bom piso sempre à beira da ribeira. Sendo a Isna cá em baixo, restava-me subir até à Várzea dos Cavaleiros. Mais uma vez deparei-me com uma subida bastante inclinada.
Chegado à Várzea comecei o regresso à Sertã, mas ainda era cedo para terminar, e como o objectivo era fazer um bom treino, resolvi seguir e subir até ao picoto Raínho.
O início do dia tinha prometido sol, mas rapidamente as nuvens apareceram e trouxeram com elas um ventinho fresco que me acompanhou ao longo do dia o que fez com que rapasse um frio do caraças. Quanto mais subia, mais frio fazia e quem me conhece, sabe que me dou muito bem com o calor, mas com o frio muito mal. O frio e o cansaço acumulado ao longo de todas as subidas do dia, fizeram com que ficasse a 200 metros do topo do picoto e iniciasse o regresso a casa um pouco mais cedo, onde um banhinho quente não me saía do pensamento e me acompanhou no regresso a casa.
No total foram 93 quilómetros com um acumulado de quase 2600 metros. Foi na minha opinião uma volta bastante dura, apesar do acumulado não ser assim tão grande (ainda ficou a 1500 metros dos 4000 anunciados para o primeiro dia do GEO-RAID). Penso que a diferença está no subir, há subidas onde se vai subindo e há aquelas em que se sobe. Desta feita havia muitas em que se sobe o que acaba por se reflectir nas pernas. Ainda assim foi um bom treino para dia 25 onde espero não sofrer muito. A ver vamos.